sábado, 26 de outubro de 2013

A virada

Nem minha mãe sabe, mas na minha primeira semana em Dublin eu emagreci 3kg. Isso seria maravilhoso pra quem sempre brigou com a balança, não fossem as circunstâncias...

No mês de agosto eu produzi uma série de reportagens na RBS TV chamada “Os sotaques de Chapecó”. Foi uma forma de homenagear o município pelos seus 96 anos e mostrar como a nossa cidade é caracterizada pela diversidade de povos, de línguas, de jeitos diferentes de falar o português. Um dos personagens da série foi o professor australiano Damien Segal. Ele contou que quando chegou a Chapecó não sabia uma palavra sequer em português. Por diversas vezes passou vontade de tomar um refrigerante ou comer alguma coisa porque não sabia pedir. Nós rimos com a história do Damien e nos sensibilizamos também. Mas entre ouvir uma história e vivê-la na prática convenhamos que existe um abismo.
Curtir algo completamente novo e diferente é um sonho. Você chega em um país e quer descobrir as coisas, saber como elas funcionam, o que tem de diferente do Brasil, o que é igual, experimentar comidas estranhas, bebidas fortes, frutas que a gente não tem, ver flores iguais mas que aqui parecem exóticas, entender porque o almoço é sanduiche, porque o interruptor fica do lado de fora do banheiro, porque o fogão não tem chamas, porque os policiais não andam armados, porque eles não gostam de tomar banho (oops, acho que não vou falar sobre isso), etc, etc, etc.

Só tem um detalhe: pra fazer tudo isso aí em cima você precisa, primeiramente, atender às necessidades básicas de qualquer ser humano. Algo do tipo, comer! Estar bem alimentado pra garantir a jornada, certo?! Beleza. Então você pega os euros (suados) que você trouxe pra Europa e sai em busca de algo. Olha uma infinidade de sanduiches, bebidas, refrigerantes, doces, muitos tipos de biscoitos, bolachas, baguetes. Muito bem! Mas...pera aí: como eu vou explicar pro moço o que eu quero que ele coloque no meu sanduiche? Lettuce, tomato, mayonnaise, olives, chicken or turkey? O atendente daquela sanduicheria em especial falava muito rápido enquanto “metia” com habilidade os ingredientes na baguete. Constatação: a rapidez dele era inversamente proporcional à minha velocidade de comunicação.
É nessas horas que algo irracional acontece com a gente. Um misto de vergonha por não saber falar em inglês, com “me tira daqui”, juntando-se ao fato de uma fila enorme estar atrás de você, todos com pressa porque tem meia hora pro almoço e um ser (no caso, você) simplesmente incomunicável empacando a fila. Sabe quando trava tudo e você reinicia? Parece que estou vendo minha professora de ciências, lá da quarta série primária, explicando a diferença entre razão e emoção. A Dona Leodete dizia que “os homens das cavernas agiam por instinto”. Aha. Saquei. Agi por instinto e me mandei dali.
Por repetidas situações como esta que eu perdi 3 kg na minha primeira semana em Dublin. Mas, é claro que eu sou uma garota esperta e logo comecei a desenvolver técnicas como rever a lição das comidas e treinar frases prontas. E é aí que eu quero chegar. Ouvi vários depoimentos de colegas da escola dizendo que o botão “ON” do inglês é ativado no final do primeiro mês. E foi exatamente isso que aconteceu comigo! Essa é a grande virada. Eu explico (talvez a professora Leodete possa me ajudar): você, incrivelmente, perde a vergonha de falar. Você fala. Certo ou errado, não interessa. Você fala. E as pessoas entendem! Caraca!
Foi nesse primeiro mês também que eu descobri a cerveja irlandesa, descobri que o chocolate aqui é muito barato e que as frutas não tem gosto de nada (entendeu, né?), que aqui tem restaurante brasileiro que serve feijoada e que a batata frita deles é ótima. Agora não perco oportunidades. Quando eu não sei a palavra eu descrevo a situação. Outro dia fui pedir um guardanapo e não lembrava como dizia a palavra em inglês. Aí falei pro cara que eu precisava de um papel branco que eu pudesse pegar o sanduíche na mão pra comer. Batata! Ele me deu o que eu precisava. É como renascer.
Agora, tem uma notícia ruim também: lembra dos 3Kg lá da primeira semana? Pois é... agora só indo pra China mesmo!


domingo, 20 de outubro de 2013

Cadê o Bono?

Quando eu soube que meu intercâmbio seria na Irlanda, na hora imaginei o Bono Vox me esperando na porta do avião, com um tapete vermelho, flores nas mãos e cantando na versão capela a música “Beautiful Day”.
 

Eu não sei você, mas eu sou um pouco “viajona”, além de viajada. Na minha cabeça eu viria pra Dublin e encontraria o vocalista da minha banda preferida (e por que não a banda inteira?) caminhando pelas ruas do centro da cidade, tomando café na esquina ou bebendo uma pint de Guinness no Pub do lado. Aí eu chegaria do nada e o Bono olharia pra mim sorrindo e diria: “Oh July, you’re welcome”.
É como o cara que vai a primeira vez pra Porto Alegre e acha que vai ver todo mundo pilchado. Tipo, prendas com vestidos envergados e peões de botas e espora. Isso tudo já no aeroporto. “Como é que eu estou no Rio Grande do Sul e ainda não vi um gaúcho?” É bem capaz do cara se perguntar. É a droga do estereótipo.  
A questão é que desde que eu me conheço por gente eu sou fã do U2 (tá bom, da Xuxa e da Sandy e do Júnior também... mas isso quando eu era criança). Meu irmão mais velho tinha uma fita cassete com uma seleção de músicas, tipo as mais tocadas dos anos 90, e lá no meio estava “With or Without”. Eu tinha uns 10 anos de idade e gostava muito daquela música. Ouvia zilhões de vezes. Depois eu fui descobrir a banda e todo o trabalho.
Em 2011 paguei o olho da cara pra ir no show do U2 em São Paulo. Era um sonho! E foi o melhor investimento da minha vida. Foi lindo, eu cantei, chorei, fiquei petrificada olhando a apresentação com aquele palco em forma de aranha gigante, tipo “I don’t believe this”. Tudo isso e mais um pouco que um fã faz pra ver seus ídolos. E eu nem estou falando de ir pra fila do show às duas horas da tarde sabendo que a banda de abertura é só pelas dez horas da noite.
Mas o que eu realmente quero socializar é que eu não estava completamente errada em relação ao Bono. Calma! O lance do avião não aconteceu. Eu explico: todos os anos, na noite de Natal, o Bono Vox aparece na principal rua do centro de Dublin (aparece? Sim, ele é um astro e astros aparecem), a Grafton Street, pra cantar em prol das crianças carentes da Irlanda. Uhuuu!!! Eu vi vários vídeos. A questão é que ninguém sabe a hora que ele vai pintar por ali. Ele faz uma aparição, canta junto com outros artistas famosos no país, na rua mesmo, no chão, tipo junta a galera e manda ver, e depois vai embora.
É que a Grafton Street é a rua onde tradicionalmente os artistas de rua se apresentam. E as pessoas confirmam que foi ali, no tempo do colégio, que o U2 começou a tocar. E depois a história toda você conhece. O que me deixou muito triste e surpresa foi saber que (infelizmente) o ditado se confirmou aqui: “santo de casa não faz milagre”. A maioria dos irlandeses não gosta do U2. O povo reclama que eles são bilionários mas não investem no país, que o Bono Vox é egoísta e doa grana pras criancinhas pobres só pra aparecer, enfim. Outra coisa que pegou muito mal foi que a banda fez o lançamento de um disco recente com um mega show na Inglaterra. Pra quem não sabe Inglaterra e Irlanda é tipo Brasil e Argentina. Entendeu? Doeu muito aqui pros irlandeses. Mas esse sentimento não é geral. No hostfamily onde eu fiquei, o casal era apaixonado pela banda e dizia que tinham muito orgulho deles. Afinal, muita gente procura saber sobre a Irlanda por causa do U2. Ufa!
E tem outra coisa que eu descobri também: aonde o Bono Vox mora! Yeahhh! (lá vem ela de novo). Ok, ok que eu sei que não vou encontrar o Bono fazendo corrida ao ar livre e sei também que ele não vai me convidar para entrar e tomar uma cerveja e nem vai me chamar pelo nome, mas... pelo menos eu posso tirar uma foto com os seguranças! Melhor, tirar uma foto beeem de longe apontando o dedo lá no fundo pra casa do cara. Genial! Pra quem ia fazer essa foto com o Google Earth, fazer na Irlanda é nada mal, não?!   







Gaélico ou Inglês?

As duas coisas. A Irlanda é um país com duas línguas oficiais. O irlandês, ou gaélico, como é mais conhecido, e o inglês, que passou a ser falado quando os ingleses invadiram a ilha na idade média.

Dá pra ver nas ruas, nos carros, nas escolas e por toda parte o esforço que os irlandeses fazem pra não deixar a língua nativa do país cair no esquecimento. O ensino dela é obrigatório nas escolas, e as crianças odeiam! Hehehe... Sim! Eu perguntei por quê? Simples: “porque é muito difícil”.
Quem mora em Dublin sabe uma ou duas palavras em gaélico. A língua é falada mesmo no interior do país, por uma minoria. Na capital, pela influência britânica, a língua que todo mundo fala aqui é o inglês.
Nas ruas você sempre encontra placas escritas nas duas línguas. Primeiro em gaélico, sempre! Depois em inglês. No Luas, que é uma espécie de bonde elétrico ou metrô de superfície que circula pela cidade, a moça que fala as estações (a gravação, no caso) cita os nomes em gaélico, depois em inglês.
Eu ouvi dizer que algumas igrejas de Dublin celebram missas em gaélico aos domingos. É muito interessante, mas se pensar na parte prática, logo logo essa língua vai cair no esquecimento e fazer parte das línguas mortas, já que as crianças só aprendem na escola porque é obrigatório, mas detestam e ninguém usa, pelo menos não na capital.
Então #ficadica: se você passar pelo interior da Irlanda e alguém falar contigo em uma língua completamente diferente de tudo que você já viu, pode saber que é o tal gaélico. E eu aqui fazendo um esforço sobre humano pra entender o sotaque deles em inglês, imagina entender a língua nativa? Só por Jesus!  



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Primeiro o ouvido, depois a língua!

Quero mandar um beijo pra todos os meus professores de inglês! ;) E pedir desculpas por todas as vezes que eu reclamei quando eles explicavam em inglês as regras gramaticais da língua inglesa. Achava aquilo tão desnecessário. “Pôxa, explica em português”. Aha.


A gente só vê que uma dificuldade é fichinha quando nos deparamos com uma maior, beeem maior. E assim tem acontecido com várias coisas nesse meu intercâmbio. São apertos que você passa e depois pensa, “como eu reclamava de barriga cheia!”. E agora falo da escola, já que ainda não dediquei um post a ela.  
Meu Professor Liam é um irlandês nativo. Ótimo. A questão é que ele não está muito interessado se eu entendo ou não o que ele fala. Ele entra falando e vai embora falando. Tipo carro sem freio.  Se minha cara de “estou boiando” for muito evidente ele repete a explicação falando um pouco mais devagar.
Parece lógico. Ele não sabe português e não faz questão nenhuma de aprender. E é por isso que é bom. E por isso que o cérebro tem que se desdobrar. Eu paguei pra isso. E o mais legal é saber que esse choque inicial acontece com TODO MUNDO. E ninguém morre. Pelo menos eu não vi nenhum morto na escola com uma faixa escrito “causa do óbito: não entendimento dos modais”.
O Liam é uma figuraça. Psicólogo. Doutor em alguma coisa que eu não entendi, e professor de inglês. Super inteligente, adora conversar e contar sobre as coisas do país, os costumes, o que é certo, o que é errado para um irlandês. E eu acho ótimo. Antes que você pergunte eu já respondo: “sim, agora eu já entendo o que ele fala”. Não tudo, é claro, mas uns 85 por cento já vai. E cada palavra nova tem um sabor de conquista. Isso é muito bacana!
Minha turma é o celeiro da diversidade. Tem brasileiro, é claro. Aliás, o que mais tem em Dublin, fora irlandês, é brasileiro. Somos em cinco brasileiros, um coreano, uma francesa, quatro venezuelanos, um espanhol e mais aquele povo que participa pouco das aulas e você não sabe ao certo de onde veio, nem o que veio fazer neste planeta.
O progresso com o inglês acontece em cada aula. E em cada aula você fica sabendo também um pouco sobre a guerra na Coréia, como são as escolas na França, a crise da Espanha, o ódio que os venezuelanos tem do Hugo Chaves porque cada vez que precisam comprar euro, o governo nega. Ficamos sabendo também das garotas que namoram os “irish”, tiramos a dúvida se eles são devagar mesmo ou se as brasileiras é que são muita rápidas, o que cada um faz pra conseguir casa e trabalho. Então, não é só o inglês, entende?
Assim como acontece com a nossa língua mãe, não tem como você chegar e já sair falando uma segunda ou uma terceira língua. Paciência! A primeira tarefa de um intercambista é prestar atenção, mas muita atenção mesmo ao que eles falam e ao modo como falam. Treinar o ouvido. Depois, entender que o sotaque é uma coisa que atrapalha muito, pois uma palavra como little, por exemplo, que a gente aprendeu a falar “lírou”, segundo o inglês americano, aqui eles falam “líto”. O “t” é super enfatizado. É por isso que, quando alguém reclamar pra mim dos sotaques do Brasil, eu nunca mais vou achar que isso é besteira. Faz muita diferença sim!
E enquanto termino o meu homework, se eu pudesse dar só uma dica sobre as escolas de inglês aqui na gringa, eu diria pra você não considerar apenas o critério preço. Ótimo seria preço + qualidade, of course, mas se não for possível, tente apertar um pouco mais o orçamento e optar pela qualidade. Faz muuuita diferença, afinal, é a escola que vai te dar o suporte inicial e você vai depender dela pra muita coisa. Vai por mim!

Bebendo da Fonte

Sem filtros, sem atravessadores. Morar em um host family é fazer uma imersão na cultura do país. Ninguém contou pra você. Você, viu, sentiu, viveu, provou. E mais, fez parte de uma família nativa, viveu a rotina deles, comeu o que eles comem e de praxe, treinou o inglês.

Uma das melhores coisas que eu fiz foi ter passado um tempo em um host family. Pra quem não está muito familiarizado com estes termos, um host family é uma casa de família normal, onde eles decidem alugar um quarto para estudantes de outros países que procuram a Irlanda para estudar e/ou trabalhar.
Você mora com eles, tem um quarto geralmente só pra você, ganha a chave da casa (na maioria das vezes), mais o café da manhã e o jantar. No meu caso, eles também lavam a minha roupa! Barbada, não é?! Seria perfeito se não fosse pelo preço. É o tipo de acomodação mais cara, fora hotel. São em média 180 euros por semana. Isso é bastante pra quem está estudando e tem a grana contada. Mas é muito mais que uma hospedagem. É uma aula.  
Eu estava na maior expectativa pra saber como seria a minha nova família. Como eu seria recebida, como seriam as pessoas, a casa, se seriam simpáticos, se perguntariam do meu país, enfim. Antes de ir de “mala e cuia”, mandei uma mensagem pra dona da casa combinando um horário pra eu chegar. Como eles são muito rigorosos com o relógio, achei que seria gentil fazer isso. Ela me respondeu dizendo que naquele dia era a festa de aniversário da filha mais velha, eles estariam bastante ocupados durante o dia e não poderiam me dar atenção. Melhor seria depois das 19h. OK. Tudo certo, 19h em ponto eu estava na porta da casa. Fui recebida por todos com abraços e desejos de boas vindas.
A casa era num condomínio fechado, três andares, decoração de muito bom gosto e um quarto só pra mim! Viva! Na casa moravam 6 pessoas: o pai (que eu não lembro o nome pois quase não via ele), a mãe chamada Michelle (que era aquela mãezona de todos e trabalhava meio período fora, só não sei se como psicóloga ou cabeleireira, mas era alguma coisa com a cabeça), a Katie (filha mais velha), a Abbey (do meio), o Conor (caçula) e a Marta (uma garota espanhola muito estranha que tinha 14 anos e também estava ali como estudante). Ah! E a Joe, cachorrinha da família.
Eles me deixaram muito a vontade. Como a casa era muito longe do centro, eu saia cedo e voltava tarde. Eu nunca jantava com eles, pois eles rigorosamente jantavam às 18h. Esse horário eu estava saindo da escola. Mas o combinado era que, toda tarde eu enviasse uma mensagem pra Michelle avisando se eu iria jantar em casa ou não. Se fosse sim, ela guardava o meu jantar. Tudo muito tranquilo.
O primeiro domingo que passei com eles fiz questão de prestar atenção em tudo. Como nós, o domingo é um dia pra descansar e jogar futebol. O caçula Conor, de 9 anos, é jogador de rugby e todo domingo tem alguma competição. No café da manhã, a Abbey resolveu fazer panquecas pra todo mundo. O almoço às 13h, foi uma espécie de café da manhã caprichado, com coisas típicas como ovo frito, waffer, bacon, feijão branco com molho de tomate, ketchup (aliás, ketchup em tuuuudo), e batata com alguma coisa (batata em tuuuudo). A noite sim teve comida mesmo. Aliás, o jantar é a refeição deles que mais se assemelha ao nosso almoço. Mas sempre vai girar em torno de frango, batata e ketchup. Outro dia tinha batata frita, batata assada, purê de batatas e frango assado. Uma loucura! (que saudades de uma picanha com alho).
Mais bacana de tudo isso foi ver que o ser humano está acima de tudo. Eles me provaram, em poucas semanas, que o amor, o respeito à diversidade e a educação sempre vão fazer a diferença aqui e em qualquer canto do planeta. Viva os Sullivan!

sábado, 12 de outubro de 2013

Graças ao Adão!

Esse cara aí da foto é o Adão. Um mineiro gente fina que resolveu dar uma paradinha neste sábado para um chopp bem brasileiro. Afinal, ele merece!

É por causa do Adão que eu e os milhares de brasileiros que vivem em Dublin comem feijão e arroz. Sim! Há 8 anos ele veio pra Dublin e sacou na hora o que todo mundo mais queria longe de casa: comer feijão e arroz. Começou vendendo vianda e depois abriu um restaurante no centro de Dublin, na região do Temple Bar.

Quando cheguei no restaurante pela primeira vez (indicado por outros brasileiros, é claro) estava tocando “Desenho de Deus” do Armandinho no som ambiente. Nossa! Me senti completamente em casa. Almocei feijão, arroz, carne e salada. Bem básico. Mas estava com taaaanta vontade de comer aquilo tudo que só lembrei que queria tirar uma foto quando limpei o prato. Aliás, um prato de pedreiro! Aí já era. Você há de convir comigo que, em primeira instância, devemos atender às nossas necessidades básicas, certo?! Então tá.
Neste sábado combinei com uns amigos para voltarmos no Feijoadão. Esse é o nome do lugar: uma mistura de feijão e Adão, sacou? Nada original, mas ninguém se importa. Aí sim, tive mais tempo para fazer alguns registros. O Feijoadão estava lotado de brasileiros recém chegados, mais antigos, os quase irlandeses, enfim, gente de todos os cantos do Brasil. Como o Adão é um cara esperto, colocou uma banda de pagode pra tocar. Eu nunca fui tãããão fã assim de pagode (admito), mas me senti tão feliz ouvindo aquele som, comendo uma feijoada e tomando o nosso chopp, que foi como receber um carinho. Eu fui agraciada.
Outra surpresa boa na semana foi encontrar um mercadinho que vende produtos do Brasil. Simmm! Esse blog não tem qualquer vínculo com as marcas, mas tive que registrar as coisas que eu eles vendem. Já que estamos em um lugar “tão tão distante”, não é mesmo?
E isso tudo é muito louco. Se pensarmos bem, queremos voar, conhecer lugares, pessoas, cheiros, gostos... É maravilhoso. Mas tem um momento em que nos damos conta de que temos raízes. E eu não estou falando só de feijão e arroz. Falo da ligação com o que é nosso, com aquilo que justifica quem somos. Nossa casa, nossa família, nosso lugar. O mundo lá fora é lindo, vale a pena, abre a cabeça. Mas se sentir em casa é confortante demais.
E viva o Adão!
 
 
 
 
  

   
 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O drama do ônibus (baseado em fatos reais)

Se tem uma coisa que eu odeio é errar. Errar muito, errar feio, errar pra cacete! Há tempos eu não fazia uma dessas. Depois do primeiro dia de aula, eu precisava pegar o ônibus pra voltar pra minha hostfamily.  Tarefa simples! #sóquenão

A dona da casa, Michelle, uma simpatissíssima senhora de meia idade, me explicou em detalhes pela manhã como eu deveria fazer pra pegar o ônibus, aonde descer, quantas quadras andar até a escola. Pra confirmar, ela fez um mapa. Sim, desenhou um mapa com todas as indicações. Barbada! Até uma criança de 7 anos entenderia. Pra não ter erro mesmo, ela foi comigo até o ponto de ônibus número 47 e sugeriu que eu tirasse foto do lugar pra não me perder. Achei um exagero, mas enfim! Tirei a foto. Meio rapidinho pra ninguém ver.
Fui tranquila. Cheguei no centro de Dublin e andei algumas quadras até minha escola. Era meu primeiro dia de aula e estava um pouco ansiosa (tá bom, eu estava muito ansiosa). Me senti exatamente como uma criança de 7 anos quando a mãe pega pela mão, deixa na escola com a lancheira e ainda faz uma carta pra professora explicando as manias do pentelho. Era eu segunda-feira.
No mapa da Michelle, eu poderia pegar dois ônibus pra voltar: o 44 e o 47. Depois da aula, resolvi umas coisas e fui pegar o ônibus. Caminhei, caminhei, caminhei mais um pouco e tudo era muito estranho. Eu simplesmente não conseguia me localizar no centro da cidade! Sim, eu estava com o mapa na mão. Não, meu celular não tem GPS. Procurei pelas placas nos pontos dos ônibus (porque em Dublin não existe um terminal, e sim paradas ao longo das ruas) e nada do meu! Até que avistei o ponto número 44. Ufa! Que alívio. O ônibus seguinte era somente em 45 minutos, ou seja, só às 21h.
Até aí eu considerei o episódio da minha confusão geográfica uma situação isolada. Comprei um salgadinho de batatas e um refrigerante e fiquei no ponto. Outra coisa legal em Dublin é que em cada ponto de ônibus tem uma placa eletrônica indicando quantos minutos faltam para o seu ônibus chegar. Fantástico, não?! E eles são extremamente pontuais. Eu grudei na dita placa e nada do meu ônibus 44 aparecer na lista. Passavam todos os outros números, menos o 44. Eu com o mapa na mão, conferindo as anotações, já cansada e com a mochila pesada. Comecei a ficar aflita. Eram 21h e nada, 21h05 e nada, 21h20 quando de repente... começou a chover! O meu status naquele momento era de semi-desespero, digamos. Eram exatamente 21h30 quando eu, toda molhada, comecei a chorar. Ali, naquele lugar (centro de Dublin por onde eu já tinha passado umas 20 vezes durante a semana). Nem me importei com o rímel descendo. Chorei alto.
Pra piorar eu estava muito preocupada porque, como aqui todos são muito rigorosos com os horários, eu havia avisado a Michelle que até às 21h estaria em casa. Era meu primeiro dia na casa e eu já estava descumprindo horários. OMG!  Naquele dia eu desejei chamar a minha mãe. Eu juro. Se eu tivesse como pegar um voo para o Brasil, voltava naquele instante. Mas, analisando friamente, eu não conseguia nem pegar um ônibus!
Passaram mil coisas na cabeça, lugar estranho, fiquei com medo de sair dali porque, talvez/quemsabe/todavia poderia ter furado um pneu e o ônibus se atrasado, a mãe do motora poderia ter passado mal ...  ah, sei lá. E se eu saísse e ele passasse bem na hora? Imagina eu, em super slow, perdendo o último ônibus pra casa?
Antes que você pense “mas por que ela não perguntou?” eu já digo: eu perguntei! Mas acho que ninguém entendeu meu inglês. Me mandaram ir pra outra rua, que lá eu pegaria o (motherfucker) ônibus 47. Uma rua escura, estreita, sem placas. Vi um ônibus parado e me joguei. O motorista percebeu (sem esforço) meu desespero e tentou compreender o que eu perguntava/gesticulava. Eu vi nos olhos dele que ele ficou com pena de mim. Afinal, era outro ser humano ali né gente! Já eram 22h30.
Foi então que ele me explicou (e eu consegui entender) que a parada do ônibus 47 ficava na outra esquina (escura e sem sinalização). Graaaaaaaças a Deus! Fui até lá e tinha um papelzinho colado num poste dizendo que o próximo ônibus 47 era às 23h. Até ali eu já tinha visto a Michelle me expulsando de casa, jogando minhas coisas na rua, me xingando de irresponsável, me denegrindo no Instagram e no Face.
Uma hora depois (quase meia noite) eu cheguei em casa e a Michelle estava muito preocupada.  Conversamos, eu tomei um banho e fui pra cama. Chorei mais um pouco, bem baixinho. (Sim, porque a mulher também chora depois que passa.)
Na terça-feira eu fui pra aula de ônibus. De novo. E deu tudo certo. Até o sol apareceu em Dublin! Coisa rara.

domingo, 6 de outubro de 2013

No meio da cidade

O outono chega, e, sem pressa, despe as árvores do St. Stephen’s Green. O parque se transforma bem aos nossos olhos. Como se as centenárias árvores pedissem que, só por um instante, notemos o seu vagaroso espetáculo.







sábado, 5 de outubro de 2013

Um lugar chamado Hostel

Quem já sabe o que é um Hostel está autorizado a pular esta parte. Hostel é uma espécie de albergue, hospedaria. Um lugar onde se paga barato para dormir e é procurado geralmente por estudantes e mochileiros. Em um Hostel você divide o quarto com outras pessoas e dorme em beliches. Tem uma cozinha com os utensílios básicos e cada um prepara a sua comida. Os banheiros também são “comunitários”.


Pois bem, minha primeira semana em Dublin foi em um Hostel. Logo de cara percebi que eu sou uma chata. Sim, porque não gosto das minhas coisas jogadas e daquele entra e sai de gente no quarto. Chata ou velha, ou os dois. Esse foi o primeiro “presente” que ganhei quando me propus a sair da minha zona de conforto. E já posso falar com propriedade: no discurso é mais fácil. Ainda mais que eu já tinha visto aquele filme “O Albergue”, produzido pelo Tarantino. Dá um Google pra você saber mais, mas adianto que é sinistro. Envolve estrangeiros, passaportes roubados e sangue, muito sangue. Enfim!
Foi um choque inicial. Mas no segundo dia vi que aquela experiência poderia ser interessante (esquece o filme). Conhecei aplicando a técnica da observação não participante. Imagina a cena: gente entra, gente sai, em grupo, sozinho, de fone, sem fone, falando espanhol, inglês, polonês, alguma coisa árabe e japonês. “Oh My God, estou no antro da diversidade!”, pensei. Juro que parecia a arca de Noé. Todos ali, no mesmo barco.


No terceiro dia já comecei a falar Hi, Hello, How are you? para uns poucos que me olhavam. É que tem uma coisa boa em Dublin: ninguém tá nem aí pra você. Mas tem uma ruim também: ninguém tá nem aí (mesmo) pra você. Voltando. Você já começa a reconhecer os brasileiros, aliás, como tem brasileiro aqui! Só no meu voo eram pelo menos 15 vindo fazer exatamente a mesma coisa que eu: estudar e trabalhar. (Que ódio!) Voltando de novo. Você troca algumas palavras aqui e ali e se dá conta que o seu problema é o mesmo do cara do lado! Então é legal, sabe? Conforta.
Como em todo lugar, tem o careta que estuda 18 horas por dia (e vai ser meu chefe, provavelmente), as russas descoladas de cabelo rosa, o argentino amigão de todos, a espanhola gordinha e falante, o casal de namorados gente fina da Venezuela, e por aí vai. Essa espanhola ficou comigo no quarto. Uma figura! Combinamos de falar só inglês. O dela era melhor que o meu, então, ela falava mais. Pelo menos era a minha roommate mais simpática. Saia e voltava bêbeda toda noite. Depois reclamava que o trabalho era muito cansativo. Aha, eu sei.



Conversando mais um pouco, descobri pessoas que moravam no Hostel. Sim! Tipo, gente que optou por este tipo de acomodação porque acharam mais conveniente o preço, tem café da manhã de graça, não precisa se preocupar com a limpeza, essas coisas. Aí eu parei! Quer dizer: se alguém escolheu morar em um Hostel é porque ali se sente bem, se sente em casa. Claro que essas pessoas são na maioria meninos que
tão nem aí com o #todomundojuntomisturado. Pensa comigo: é legal, muito legal quando você tem 18 anos. É uma festa, com toda liberdade do mundo. No meu caso, achei bacana a experiência, mas não consigo esconder minha felicidade porque vou agora pra uma hostfamily por 3 semanas. Depois eu conto.

E viva a coletividade!!!  

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Desbravando a Irlanda

Hoje foi um dia muito bacana. Tive a oportunidade de conhecer uma pequena vila chamada Howth, que fica na costa leste da Irlanda, no Condado de Dublin. É um lugar muito fofo, charmoso e um pouco bucólico.

Eu andava por aquelas ruas e tinha a sensação exata de estar em um filme. Parecia que a qualquer momento o diretor ia gritar “corta, corta”. As ruas limpas, flores nas janelas, vários cafés e bares pequenos cheios de pessoas tranquilas. Nada de badalação. Sem contar a vista para o mar da Irlanda e um vento gelado no rosto.

A relação dos irlandeses com a praia não é como a nossa. Quando nós, brasileiros, falamos em passar um fim de semana na praia, logo vem a imagem da farofada, de areais disputadíssimas, “olha o picolé”, “sai daí piá, vai se afogá”, e por aí vai. Como na Irlanda as temperaturas são muito baixas, especialmente agora com a chegada do outono e em seguida de um rigoroso inverno, as pessoas vão à praia para apreciar a paisagem, caminhar, olhar o infinito.
Tanta coisa incrível aos meus olhos e por um instante eu me pego olhando pra dentro, fazendo uma reflexão sobre tudo até aqui. Quem sabe esse seja o propósito do lugar. Sentir a calmaria lá fora pra poder escutar a voz aqui dentro.




Um Charme!

O centro de Dublin é formado por duas ruas principais. A O’Connell Street, em Dublin 1, uma rua larga com uma mistura arquitetônica interessante, onde prédios modernos e históricos dividem espaço e o aspecto é mais urbano e cosmopolita...


...e a Grafton Street, que fica em Dublin 2 e é um calçadão. O que separa as duas é o Rio Liffey e o Trinity College (outro dia falo dele aqui). Nela só passam pedestres. E foi por ela que eu me apaixonei, tipo amor à primeira vista. A rua é bem mais provinciana e elegante que a O’Connell. É na Grafton Street que os artistas de rua se apresentam todos os dias. Quando faz sol, coisa rara em Dublin, eles brotam de todos os lados. Há várias bancas vendendo flores. Um encanto! Pra você se deliciar com o clima do coração de Dublin, alguns registros:
 


 
 


 
 
 
 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Juras de Amor

Quando a gente chega em Dublin, várias coisas chamam a atenção. E eu não estou falando da história riquíssima da cidade. Me refiro a coisas simples e corriqueiras que não conseguem passar despercebidas.

A primeira delas é o trânsito. Aqui os motoristas ficam no lado direito do carro, e não no esquerdo, como é no Brasil. É a tal da "mão inglesa", que existe em 7 países da Europa. Levei vários sustos porque olhava e num primeiro instante, parecia que não tinha motorista. Com isso, a mão da rua também é invertida. Pra atravessar, nunca sei pra que lado olhar. Na dúvida, miro pra todos os lados.
Mas uma coisa que eu achei muito fofa e me chamou a atenção logo de cara foi a Ponte do Cadeado. Assim os brasileiros conhecem, mas o nome dela é Ha’Penny Bridge e liga Dublin 1 a Dublin 2. Nela os casais fazem juras de amor eterno, colocam os seus nomes, fecham o cadeado e jogam a chave no rio. Encontrei vários brasileiros! Olha esse da Bianca e do Guido. Que bonitinho, não é?! Devem estar juntos ainda... tão recente! 

 


Os Pubs Irlandeses

Visitar a Irlanda e não conhecer um Pub é como ir a Roma e não conhecer o Papa. Não tem sentido algum.

A vida social na Irlanda acontece nos Pubs. Eles abrem por volta do meio dia e fecham em torno de 2 horas da manhã. São cerca de mil deles em Dublin. Impossível conhecer todos. Mas tem um que não pode passar em branco: o Temple Bar. É o mais famoso e o mais antigo da cidade. Tanto que a área onde o Pub está localizado ficou conhecida como “a região do Temple Bar”, em Dublin 2.
É impressionante como esses lugares estão sempre cheios. São espaços pequenos, com música animada, pouca luz, diversas cervejas e muita gente rindo e falando alto. Turistas aos montes, mas também os irlandeses nativos. Já estou conseguindo reconhecê-los em meio a tanta diversidade.
A cerveja mais famosa daqui é sem dúvida a Guinness, uma bebida escura de gosto amargo que tem mais de 250 anos de tradição. Eu já havia provado no Brasil e não gostei. Mas é claro, meu paladar ainda não foi treinado para saboreá-la. Quem sabe ao final da minha estada por aqui estejamos mais familiarizados.
De chegada, preferi experimentar algo mais leve, a Bulmers. O sabor lembra cerveja e espumante misturados. É mais leve e mais adocicada que as nossas cervejas. Achei muito interessante. Mas até provar uma cerveja eu bati perna, já que a cerveja é cara. Na região do Temple Bar chega a custar 7 euros o pint (copo de meio litro). Eu consegui por 4 euros. Yeah! Tem até um ditado entre os brasileiros que vivem aqui que diz “quem converte não se diverte”. Faz sentido porque se você for pensar em reais, 4 euros significam mais de 12 reais. Pra uma cerveja? É demais.
A relação entre os irlandeses e a bebida é tão antiga quanto a história do país. Aqui eles bebem pra comemorar tudo: nascimento, noivado, casamento, início de namoro, fim de namoro, nota boa na prova, etc, etc. Até a morte de um familiar ou amigo é motivo para beber. E eles enchem a cara mesmo. Mas só dentro dos Pubs, porque beber na rua é proibido.
O mais legal disso é tudo é andar pelas ruas e ter a impressão de estar no cenário de um filme. Becos, ruelas, prédios antiguíssimos que abrigam os Pubs, tudo ali, na sua frente! Aquilo que o cinema e a literatura retratam, ao vivo, com riqueza de detalhes. Isso, claro, mais evidente antes de se beber alguns pints