sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A decisão de voltar

É quando o Plano B pula pra frente e vira protagonista

Imagina você fazendo uma viagem de férias. Tudo lindo, cheio de planos, correria pra aproveitar cada pedacinho, empolgação, novidades. Seja qual for o destino, uma semana depois, ou, no máximo dez dias, depois que você já comeu tudo o que queria, bebeu bastante, bateu perna, mergulhou, saltou, bate uma vontadezinha (vinda não sei de onde) de estar em casa. Você está adorando as férias, mas o seu travesseiro não existe em outro lugar. É só na sua casa. O único lugar do mundo em que você vai de olhos fechados para o banheiro, sabe o lugar do açúcar e faz tudo no automático. Chega um momento em que a nossa casa é necessária. Ela puxa. As pessoas que nos conhecem, nossos pais, parentes, amigos, até a vizinha metida, puxam.
Por mais distante o lugar para onde você tenha ido se aventurar de férias, para uma especialização, um curso, para visitar alguém ou outra razão qualquer, a ligação com o que é nosso é muito forte. Mesmo assim, eu fui para o meu sonhado intercâmbio na Irlanda decidida a não voltar. Pelo menos, não tão cedo. Aquilo era muito claro pra mim. Organizada como sou, planejei cada detalhe. Tudo! Na minha cabeça eu ficaria um ano na terra dos Leprachaus e depois voltaria pro Brasil com meu inglês bem melhor, quase fluente. Nesse meio tempo arrumaria um trabalho por lá, e, quem sabe, se meu salário em euros valesse a pena, ficaria o tempo máximo que um estrangeiro pudesse ficar.
O roteiro estava traçado. Fiz planilhas de todas as ordens. Meus planejamentos previram até um abalo psicológico provocado pelo impacto da mudança. Eu passaria por dificuldades, meu emocional iria sentir, a imunidade cairia até eu ficar triste e resfriada. Então, levei remédios pra resfriado. E usei. Eu me embrenhei nesta aventura enxergando exatamente o começo, o meio e o fim. Era como olhar uma rua reta e bem comprida. Lá no fundo, bem pequenininho, ainda dava pra ver a rua, e seus olhos estavam lá, traçando toda a rota. Líquido e certo.
O problema é que nós insistimos na ilusão de que temos o controle sobre todas as coisas. Eu sempre tive o controle sobre tudo na minha vida, exceto quando meu pai morreu. Me senti a pessoa mais fragilizada e vulnerável deste mundo. Então passei a acreditar que não temos o controle sobre a morte, mas sobre a vida sim. Decidida a ficar na Irlanda por um ano, eu não contava com um novo caminho que eu encontraria pela frente. Um caminho que apareceu para me provar que nós não mandamos em nada, nem na morte, nem na vida: o caminho do amor.
Quando eu parti no começo da primavera eu tinha um relacionamento no Brasil que não era sério. Uma pessoa com quem eu me dava muito bem, que eu gostava muito, mas que naquele momento tinha objetivos de vida diferentes dos meus. Eu fiz a viagem imaginando que a distância resolveria tudo. Aos poucos nos desligaríamos e cada um seguiria a vida, normalmente. Ilusão. A distância nos uniu cada vez mais. Horas intermináveis de conversa on-line. Eu já não sabia mais o que fazer com meus planos para o futuro. Sabia que estar lá tinha uma importância enorme na minha vida, era um sonho, mas eu tinha um buraco. Faltava alguma coisa. Faltava alguém. Eu já não me sentia mais completa sozinha. Foi nesse momento que eu ouvi meu coração e voltei pra casa. Por amor, admito. Foi uma decisão difícil, mas a decisão mais certa que eu poderia ter tomada. Voltei pro Brasil e hoje me sinto muito, mas muito feliz. Estou com quem eu amo, fazendo mil planos para o futuro (e eles incluem viagens, é claro!).

A Irlanda? Sim, eu fui. Foram quase 4 meses. Uma estação. Aliás, tive a alegria de viver lá no outono. Pra mim, a estação mais linda do ano. Eu andava por aqueles parques e me sentia em casa. Era tudo meu! Aprendi muito, cresci, reaprendi, não tem como explicar. Foi incrível. Realizei meu sonho, fiz meu curso de inglês e voltei pra casa. No lugar onde me sinto amada e querida. Pela primeira vez na minha vida não tenho planos para o futuro. Nem sei o que vou fazer para o almoço de amanhã. E nunca estive tão bem com isso.
Meu intercâmbio na Irlanda encerra por aqui com o sentimento de missão cumprida. Com um desfecho diferente do planejado, mas surpreendentemente melhor. Não tem como voltar e ser a mesma pessoa. A gente muda. E, cá entre nós, ainda bem! Com isso, fecho o blog também. Obrigada por “viajarem” comigo nesse tempo. Foi lindo. Um beijo bem gordo, como o café da manhã Irish.

Cheers!

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Home Sweet Home!!!

Depois de alguns dias ausente do blog, voltei a escrever para contar sobre esta nova etapa do meu intercâmbio: o flat!

Tenho andado bastante ocupada ultimamente com os afazeres da minha nova moradia. Há um mês passei a dividir um flat com duas meninas de São Paulo, a Rafaela e a Priscila. Encontrei elas numa página de Classificados para brasileiros em Dublin. Três pessoas para um pequeno apartamento de dois quartos, sala, cozinha e banheiro. Eu fico em um quarto sozinha, o que é considerado um luxo entre os estudantes por aqui, e elas dividem uma cama de casal no outro quarto. Elas são amigas, colegas de faculdade no Brasil e aqui não tiveram outra opção senão dividir a mesma cama.
Pode parecer clichê, mas em Dublin cada um se ajeita como pode. E tudo passa a ser supervalorizado. Quando eu estava procurando um lugar para morar depois que saí da hostfamily, olhei vários flats onde a oferta era essa: dividir cama de casal com outra menina que eu nunca tinha visto na frente. Refutei num primeiro momento. Depois, vi que meu bolso não me permitia escolher muito. Quando eu estava quase cedendo, encontrei um flat para alugar direto com o dono, sem burocracias. Foi uma festa! Um quarto só pra mim pelo preço de um quarto dividido. Garota de sorte eu!
Aí comecei a reviver todo o meu tempo de faculdade, quando dividia apartamento com outras colegas. Exatamente a mesma história: “dia de pagar aluguel, cuidado com a luz, desliga o aquecedor, terminou o saco do lixo, essa semana eu limpo, de quem é essa louça?” E assim por diante. Mesmo filme. Aqui quando a gente entra em um flat, tem que pagar duas vezes o aluguel. Explico: o aluguel adiantado mais o mesmo valor que fica como sendo um depósito, uma garantia que o dono (que aqui se chama landlord) tem. Quando a gente vai embora, ou outra pessoa ocupa nosso lugar no flat, esse depósito volta pra gente.
A primeira coisa que fizemos foi ir numa loja dessas que vende coisas pra casa e comprar o básico: prato, copo, xícara, panela, edredom, travesseiro e lençol. Coisas pra se virar numa casa. O básico mesmo, já que, no meu caso, seria para passar alguns meses. Meus travesseiros custaram um euro cada e o edredom de solteiro, seis euros. Barbada! E super fofinhos. Essa parte eu #supercurti.
Mas, como aqui as coisas mudam com a velocidade da luz e com um telefone para uma entrevista de trabalho, o nosso trio de flatmates se desfez no primeiro mês. Calma, calma! Ninguém brigou. A Priscila que já estava em Dublin há sete meses não conseguiu um trabalho decente e resolver voltar pro Brasil. Antes disso, juntou a grana que tinha e foi viajar pela Europa. Eu e a Rafaela ficamos no flat. 

É engraçado porque viver em comunidade é lindo! Na teoria. Lidar com as diferenças e com as limitações de espaço e dinheiro faz qualquer um perder as estribeiras de vez em quando. O emocional pega. A grana pega (ou a falta dela). A paciência foge. A carência grita. Soma-se isso ao fato de você chegar em casa morrendo de fome da escola e ter que entrar na fila pra fazer comida e tomar banho. Parece férias na praia. Esse é o lado ruim. O bom disso tudo é o exercício. É o desapego que a gente pratica, querendo ou não. Por exemplo: faz meses que eu não sei o que é um banho de mais de dois minutos. E não morri por isso. Viver em comunidade é lindo na prática quando você compartilha as mesmas dificuldades e as mesmas emoções. Coloca num saco e mexe. O problema de um é exatamente o problema do outro. Todo mundo que está aqui precisa aprender inglês e implorando por um trabalho. Assunto em comum não falta.
Querendo ou não, todo intercambista também está aqui por uma razão muito particular, além do inglês. A maioria das pessoas tem histórias de amor envolvendo suas decisões de fazer as malas. Algo que você descobre só depois que as perguntas “De onde você é?”, “Quando chegou?” e “Quanto tempo vai ficar?” já foram vencidas. Seja um namoro que terminou, uma relação que não ia pra frente, uma separação depois de anos, e assim por diante. Tem de tudo! Mas isso dá outro capítulo. Por enquanto, vou me virando no flat, a moradia com mais cara de “minha casa” que eu já experimentei aqui na Irlanda. Agora, dá licença que eu preciso dar uma olhada na alavanca da descarga que emperrou. Home sweet home?

sábado, 26 de outubro de 2013

A virada

Nem minha mãe sabe, mas na minha primeira semana em Dublin eu emagreci 3kg. Isso seria maravilhoso pra quem sempre brigou com a balança, não fossem as circunstâncias...

No mês de agosto eu produzi uma série de reportagens na RBS TV chamada “Os sotaques de Chapecó”. Foi uma forma de homenagear o município pelos seus 96 anos e mostrar como a nossa cidade é caracterizada pela diversidade de povos, de línguas, de jeitos diferentes de falar o português. Um dos personagens da série foi o professor australiano Damien Segal. Ele contou que quando chegou a Chapecó não sabia uma palavra sequer em português. Por diversas vezes passou vontade de tomar um refrigerante ou comer alguma coisa porque não sabia pedir. Nós rimos com a história do Damien e nos sensibilizamos também. Mas entre ouvir uma história e vivê-la na prática convenhamos que existe um abismo.
Curtir algo completamente novo e diferente é um sonho. Você chega em um país e quer descobrir as coisas, saber como elas funcionam, o que tem de diferente do Brasil, o que é igual, experimentar comidas estranhas, bebidas fortes, frutas que a gente não tem, ver flores iguais mas que aqui parecem exóticas, entender porque o almoço é sanduiche, porque o interruptor fica do lado de fora do banheiro, porque o fogão não tem chamas, porque os policiais não andam armados, porque eles não gostam de tomar banho (oops, acho que não vou falar sobre isso), etc, etc, etc.

Só tem um detalhe: pra fazer tudo isso aí em cima você precisa, primeiramente, atender às necessidades básicas de qualquer ser humano. Algo do tipo, comer! Estar bem alimentado pra garantir a jornada, certo?! Beleza. Então você pega os euros (suados) que você trouxe pra Europa e sai em busca de algo. Olha uma infinidade de sanduiches, bebidas, refrigerantes, doces, muitos tipos de biscoitos, bolachas, baguetes. Muito bem! Mas...pera aí: como eu vou explicar pro moço o que eu quero que ele coloque no meu sanduiche? Lettuce, tomato, mayonnaise, olives, chicken or turkey? O atendente daquela sanduicheria em especial falava muito rápido enquanto “metia” com habilidade os ingredientes na baguete. Constatação: a rapidez dele era inversamente proporcional à minha velocidade de comunicação.
É nessas horas que algo irracional acontece com a gente. Um misto de vergonha por não saber falar em inglês, com “me tira daqui”, juntando-se ao fato de uma fila enorme estar atrás de você, todos com pressa porque tem meia hora pro almoço e um ser (no caso, você) simplesmente incomunicável empacando a fila. Sabe quando trava tudo e você reinicia? Parece que estou vendo minha professora de ciências, lá da quarta série primária, explicando a diferença entre razão e emoção. A Dona Leodete dizia que “os homens das cavernas agiam por instinto”. Aha. Saquei. Agi por instinto e me mandei dali.
Por repetidas situações como esta que eu perdi 3 kg na minha primeira semana em Dublin. Mas, é claro que eu sou uma garota esperta e logo comecei a desenvolver técnicas como rever a lição das comidas e treinar frases prontas. E é aí que eu quero chegar. Ouvi vários depoimentos de colegas da escola dizendo que o botão “ON” do inglês é ativado no final do primeiro mês. E foi exatamente isso que aconteceu comigo! Essa é a grande virada. Eu explico (talvez a professora Leodete possa me ajudar): você, incrivelmente, perde a vergonha de falar. Você fala. Certo ou errado, não interessa. Você fala. E as pessoas entendem! Caraca!
Foi nesse primeiro mês também que eu descobri a cerveja irlandesa, descobri que o chocolate aqui é muito barato e que as frutas não tem gosto de nada (entendeu, né?), que aqui tem restaurante brasileiro que serve feijoada e que a batata frita deles é ótima. Agora não perco oportunidades. Quando eu não sei a palavra eu descrevo a situação. Outro dia fui pedir um guardanapo e não lembrava como dizia a palavra em inglês. Aí falei pro cara que eu precisava de um papel branco que eu pudesse pegar o sanduíche na mão pra comer. Batata! Ele me deu o que eu precisava. É como renascer.
Agora, tem uma notícia ruim também: lembra dos 3Kg lá da primeira semana? Pois é... agora só indo pra China mesmo!


domingo, 20 de outubro de 2013

Cadê o Bono?

Quando eu soube que meu intercâmbio seria na Irlanda, na hora imaginei o Bono Vox me esperando na porta do avião, com um tapete vermelho, flores nas mãos e cantando na versão capela a música “Beautiful Day”.
 

Eu não sei você, mas eu sou um pouco “viajona”, além de viajada. Na minha cabeça eu viria pra Dublin e encontraria o vocalista da minha banda preferida (e por que não a banda inteira?) caminhando pelas ruas do centro da cidade, tomando café na esquina ou bebendo uma pint de Guinness no Pub do lado. Aí eu chegaria do nada e o Bono olharia pra mim sorrindo e diria: “Oh July, you’re welcome”.
É como o cara que vai a primeira vez pra Porto Alegre e acha que vai ver todo mundo pilchado. Tipo, prendas com vestidos envergados e peões de botas e espora. Isso tudo já no aeroporto. “Como é que eu estou no Rio Grande do Sul e ainda não vi um gaúcho?” É bem capaz do cara se perguntar. É a droga do estereótipo.  
A questão é que desde que eu me conheço por gente eu sou fã do U2 (tá bom, da Xuxa e da Sandy e do Júnior também... mas isso quando eu era criança). Meu irmão mais velho tinha uma fita cassete com uma seleção de músicas, tipo as mais tocadas dos anos 90, e lá no meio estava “With or Without”. Eu tinha uns 10 anos de idade e gostava muito daquela música. Ouvia zilhões de vezes. Depois eu fui descobrir a banda e todo o trabalho.
Em 2011 paguei o olho da cara pra ir no show do U2 em São Paulo. Era um sonho! E foi o melhor investimento da minha vida. Foi lindo, eu cantei, chorei, fiquei petrificada olhando a apresentação com aquele palco em forma de aranha gigante, tipo “I don’t believe this”. Tudo isso e mais um pouco que um fã faz pra ver seus ídolos. E eu nem estou falando de ir pra fila do show às duas horas da tarde sabendo que a banda de abertura é só pelas dez horas da noite.
Mas o que eu realmente quero socializar é que eu não estava completamente errada em relação ao Bono. Calma! O lance do avião não aconteceu. Eu explico: todos os anos, na noite de Natal, o Bono Vox aparece na principal rua do centro de Dublin (aparece? Sim, ele é um astro e astros aparecem), a Grafton Street, pra cantar em prol das crianças carentes da Irlanda. Uhuuu!!! Eu vi vários vídeos. A questão é que ninguém sabe a hora que ele vai pintar por ali. Ele faz uma aparição, canta junto com outros artistas famosos no país, na rua mesmo, no chão, tipo junta a galera e manda ver, e depois vai embora.
É que a Grafton Street é a rua onde tradicionalmente os artistas de rua se apresentam. E as pessoas confirmam que foi ali, no tempo do colégio, que o U2 começou a tocar. E depois a história toda você conhece. O que me deixou muito triste e surpresa foi saber que (infelizmente) o ditado se confirmou aqui: “santo de casa não faz milagre”. A maioria dos irlandeses não gosta do U2. O povo reclama que eles são bilionários mas não investem no país, que o Bono Vox é egoísta e doa grana pras criancinhas pobres só pra aparecer, enfim. Outra coisa que pegou muito mal foi que a banda fez o lançamento de um disco recente com um mega show na Inglaterra. Pra quem não sabe Inglaterra e Irlanda é tipo Brasil e Argentina. Entendeu? Doeu muito aqui pros irlandeses. Mas esse sentimento não é geral. No hostfamily onde eu fiquei, o casal era apaixonado pela banda e dizia que tinham muito orgulho deles. Afinal, muita gente procura saber sobre a Irlanda por causa do U2. Ufa!
E tem outra coisa que eu descobri também: aonde o Bono Vox mora! Yeahhh! (lá vem ela de novo). Ok, ok que eu sei que não vou encontrar o Bono fazendo corrida ao ar livre e sei também que ele não vai me convidar para entrar e tomar uma cerveja e nem vai me chamar pelo nome, mas... pelo menos eu posso tirar uma foto com os seguranças! Melhor, tirar uma foto beeem de longe apontando o dedo lá no fundo pra casa do cara. Genial! Pra quem ia fazer essa foto com o Google Earth, fazer na Irlanda é nada mal, não?!   







Gaélico ou Inglês?

As duas coisas. A Irlanda é um país com duas línguas oficiais. O irlandês, ou gaélico, como é mais conhecido, e o inglês, que passou a ser falado quando os ingleses invadiram a ilha na idade média.

Dá pra ver nas ruas, nos carros, nas escolas e por toda parte o esforço que os irlandeses fazem pra não deixar a língua nativa do país cair no esquecimento. O ensino dela é obrigatório nas escolas, e as crianças odeiam! Hehehe... Sim! Eu perguntei por quê? Simples: “porque é muito difícil”.
Quem mora em Dublin sabe uma ou duas palavras em gaélico. A língua é falada mesmo no interior do país, por uma minoria. Na capital, pela influência britânica, a língua que todo mundo fala aqui é o inglês.
Nas ruas você sempre encontra placas escritas nas duas línguas. Primeiro em gaélico, sempre! Depois em inglês. No Luas, que é uma espécie de bonde elétrico ou metrô de superfície que circula pela cidade, a moça que fala as estações (a gravação, no caso) cita os nomes em gaélico, depois em inglês.
Eu ouvi dizer que algumas igrejas de Dublin celebram missas em gaélico aos domingos. É muito interessante, mas se pensar na parte prática, logo logo essa língua vai cair no esquecimento e fazer parte das línguas mortas, já que as crianças só aprendem na escola porque é obrigatório, mas detestam e ninguém usa, pelo menos não na capital.
Então #ficadica: se você passar pelo interior da Irlanda e alguém falar contigo em uma língua completamente diferente de tudo que você já viu, pode saber que é o tal gaélico. E eu aqui fazendo um esforço sobre humano pra entender o sotaque deles em inglês, imagina entender a língua nativa? Só por Jesus!  



sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Primeiro o ouvido, depois a língua!

Quero mandar um beijo pra todos os meus professores de inglês! ;) E pedir desculpas por todas as vezes que eu reclamei quando eles explicavam em inglês as regras gramaticais da língua inglesa. Achava aquilo tão desnecessário. “Pôxa, explica em português”. Aha.


A gente só vê que uma dificuldade é fichinha quando nos deparamos com uma maior, beeem maior. E assim tem acontecido com várias coisas nesse meu intercâmbio. São apertos que você passa e depois pensa, “como eu reclamava de barriga cheia!”. E agora falo da escola, já que ainda não dediquei um post a ela.  
Meu Professor Liam é um irlandês nativo. Ótimo. A questão é que ele não está muito interessado se eu entendo ou não o que ele fala. Ele entra falando e vai embora falando. Tipo carro sem freio.  Se minha cara de “estou boiando” for muito evidente ele repete a explicação falando um pouco mais devagar.
Parece lógico. Ele não sabe português e não faz questão nenhuma de aprender. E é por isso que é bom. E por isso que o cérebro tem que se desdobrar. Eu paguei pra isso. E o mais legal é saber que esse choque inicial acontece com TODO MUNDO. E ninguém morre. Pelo menos eu não vi nenhum morto na escola com uma faixa escrito “causa do óbito: não entendimento dos modais”.
O Liam é uma figuraça. Psicólogo. Doutor em alguma coisa que eu não entendi, e professor de inglês. Super inteligente, adora conversar e contar sobre as coisas do país, os costumes, o que é certo, o que é errado para um irlandês. E eu acho ótimo. Antes que você pergunte eu já respondo: “sim, agora eu já entendo o que ele fala”. Não tudo, é claro, mas uns 85 por cento já vai. E cada palavra nova tem um sabor de conquista. Isso é muito bacana!
Minha turma é o celeiro da diversidade. Tem brasileiro, é claro. Aliás, o que mais tem em Dublin, fora irlandês, é brasileiro. Somos em cinco brasileiros, um coreano, uma francesa, quatro venezuelanos, um espanhol e mais aquele povo que participa pouco das aulas e você não sabe ao certo de onde veio, nem o que veio fazer neste planeta.
O progresso com o inglês acontece em cada aula. E em cada aula você fica sabendo também um pouco sobre a guerra na Coréia, como são as escolas na França, a crise da Espanha, o ódio que os venezuelanos tem do Hugo Chaves porque cada vez que precisam comprar euro, o governo nega. Ficamos sabendo também das garotas que namoram os “irish”, tiramos a dúvida se eles são devagar mesmo ou se as brasileiras é que são muita rápidas, o que cada um faz pra conseguir casa e trabalho. Então, não é só o inglês, entende?
Assim como acontece com a nossa língua mãe, não tem como você chegar e já sair falando uma segunda ou uma terceira língua. Paciência! A primeira tarefa de um intercambista é prestar atenção, mas muita atenção mesmo ao que eles falam e ao modo como falam. Treinar o ouvido. Depois, entender que o sotaque é uma coisa que atrapalha muito, pois uma palavra como little, por exemplo, que a gente aprendeu a falar “lírou”, segundo o inglês americano, aqui eles falam “líto”. O “t” é super enfatizado. É por isso que, quando alguém reclamar pra mim dos sotaques do Brasil, eu nunca mais vou achar que isso é besteira. Faz muita diferença sim!
E enquanto termino o meu homework, se eu pudesse dar só uma dica sobre as escolas de inglês aqui na gringa, eu diria pra você não considerar apenas o critério preço. Ótimo seria preço + qualidade, of course, mas se não for possível, tente apertar um pouco mais o orçamento e optar pela qualidade. Faz muuuita diferença, afinal, é a escola que vai te dar o suporte inicial e você vai depender dela pra muita coisa. Vai por mim!

Bebendo da Fonte

Sem filtros, sem atravessadores. Morar em um host family é fazer uma imersão na cultura do país. Ninguém contou pra você. Você, viu, sentiu, viveu, provou. E mais, fez parte de uma família nativa, viveu a rotina deles, comeu o que eles comem e de praxe, treinou o inglês.

Uma das melhores coisas que eu fiz foi ter passado um tempo em um host family. Pra quem não está muito familiarizado com estes termos, um host family é uma casa de família normal, onde eles decidem alugar um quarto para estudantes de outros países que procuram a Irlanda para estudar e/ou trabalhar.
Você mora com eles, tem um quarto geralmente só pra você, ganha a chave da casa (na maioria das vezes), mais o café da manhã e o jantar. No meu caso, eles também lavam a minha roupa! Barbada, não é?! Seria perfeito se não fosse pelo preço. É o tipo de acomodação mais cara, fora hotel. São em média 180 euros por semana. Isso é bastante pra quem está estudando e tem a grana contada. Mas é muito mais que uma hospedagem. É uma aula.  
Eu estava na maior expectativa pra saber como seria a minha nova família. Como eu seria recebida, como seriam as pessoas, a casa, se seriam simpáticos, se perguntariam do meu país, enfim. Antes de ir de “mala e cuia”, mandei uma mensagem pra dona da casa combinando um horário pra eu chegar. Como eles são muito rigorosos com o relógio, achei que seria gentil fazer isso. Ela me respondeu dizendo que naquele dia era a festa de aniversário da filha mais velha, eles estariam bastante ocupados durante o dia e não poderiam me dar atenção. Melhor seria depois das 19h. OK. Tudo certo, 19h em ponto eu estava na porta da casa. Fui recebida por todos com abraços e desejos de boas vindas.
A casa era num condomínio fechado, três andares, decoração de muito bom gosto e um quarto só pra mim! Viva! Na casa moravam 6 pessoas: o pai (que eu não lembro o nome pois quase não via ele), a mãe chamada Michelle (que era aquela mãezona de todos e trabalhava meio período fora, só não sei se como psicóloga ou cabeleireira, mas era alguma coisa com a cabeça), a Katie (filha mais velha), a Abbey (do meio), o Conor (caçula) e a Marta (uma garota espanhola muito estranha que tinha 14 anos e também estava ali como estudante). Ah! E a Joe, cachorrinha da família.
Eles me deixaram muito a vontade. Como a casa era muito longe do centro, eu saia cedo e voltava tarde. Eu nunca jantava com eles, pois eles rigorosamente jantavam às 18h. Esse horário eu estava saindo da escola. Mas o combinado era que, toda tarde eu enviasse uma mensagem pra Michelle avisando se eu iria jantar em casa ou não. Se fosse sim, ela guardava o meu jantar. Tudo muito tranquilo.
O primeiro domingo que passei com eles fiz questão de prestar atenção em tudo. Como nós, o domingo é um dia pra descansar e jogar futebol. O caçula Conor, de 9 anos, é jogador de rugby e todo domingo tem alguma competição. No café da manhã, a Abbey resolveu fazer panquecas pra todo mundo. O almoço às 13h, foi uma espécie de café da manhã caprichado, com coisas típicas como ovo frito, waffer, bacon, feijão branco com molho de tomate, ketchup (aliás, ketchup em tuuuudo), e batata com alguma coisa (batata em tuuuudo). A noite sim teve comida mesmo. Aliás, o jantar é a refeição deles que mais se assemelha ao nosso almoço. Mas sempre vai girar em torno de frango, batata e ketchup. Outro dia tinha batata frita, batata assada, purê de batatas e frango assado. Uma loucura! (que saudades de uma picanha com alho).
Mais bacana de tudo isso foi ver que o ser humano está acima de tudo. Eles me provaram, em poucas semanas, que o amor, o respeito à diversidade e a educação sempre vão fazer a diferença aqui e em qualquer canto do planeta. Viva os Sullivan!