sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

A decisão de voltar

É quando o Plano B pula pra frente e vira protagonista

Imagina você fazendo uma viagem de férias. Tudo lindo, cheio de planos, correria pra aproveitar cada pedacinho, empolgação, novidades. Seja qual for o destino, uma semana depois, ou, no máximo dez dias, depois que você já comeu tudo o que queria, bebeu bastante, bateu perna, mergulhou, saltou, bate uma vontadezinha (vinda não sei de onde) de estar em casa. Você está adorando as férias, mas o seu travesseiro não existe em outro lugar. É só na sua casa. O único lugar do mundo em que você vai de olhos fechados para o banheiro, sabe o lugar do açúcar e faz tudo no automático. Chega um momento em que a nossa casa é necessária. Ela puxa. As pessoas que nos conhecem, nossos pais, parentes, amigos, até a vizinha metida, puxam.
Por mais distante o lugar para onde você tenha ido se aventurar de férias, para uma especialização, um curso, para visitar alguém ou outra razão qualquer, a ligação com o que é nosso é muito forte. Mesmo assim, eu fui para o meu sonhado intercâmbio na Irlanda decidida a não voltar. Pelo menos, não tão cedo. Aquilo era muito claro pra mim. Organizada como sou, planejei cada detalhe. Tudo! Na minha cabeça eu ficaria um ano na terra dos Leprachaus e depois voltaria pro Brasil com meu inglês bem melhor, quase fluente. Nesse meio tempo arrumaria um trabalho por lá, e, quem sabe, se meu salário em euros valesse a pena, ficaria o tempo máximo que um estrangeiro pudesse ficar.
O roteiro estava traçado. Fiz planilhas de todas as ordens. Meus planejamentos previram até um abalo psicológico provocado pelo impacto da mudança. Eu passaria por dificuldades, meu emocional iria sentir, a imunidade cairia até eu ficar triste e resfriada. Então, levei remédios pra resfriado. E usei. Eu me embrenhei nesta aventura enxergando exatamente o começo, o meio e o fim. Era como olhar uma rua reta e bem comprida. Lá no fundo, bem pequenininho, ainda dava pra ver a rua, e seus olhos estavam lá, traçando toda a rota. Líquido e certo.
O problema é que nós insistimos na ilusão de que temos o controle sobre todas as coisas. Eu sempre tive o controle sobre tudo na minha vida, exceto quando meu pai morreu. Me senti a pessoa mais fragilizada e vulnerável deste mundo. Então passei a acreditar que não temos o controle sobre a morte, mas sobre a vida sim. Decidida a ficar na Irlanda por um ano, eu não contava com um novo caminho que eu encontraria pela frente. Um caminho que apareceu para me provar que nós não mandamos em nada, nem na morte, nem na vida: o caminho do amor.
Quando eu parti no começo da primavera eu tinha um relacionamento no Brasil que não era sério. Uma pessoa com quem eu me dava muito bem, que eu gostava muito, mas que naquele momento tinha objetivos de vida diferentes dos meus. Eu fiz a viagem imaginando que a distância resolveria tudo. Aos poucos nos desligaríamos e cada um seguiria a vida, normalmente. Ilusão. A distância nos uniu cada vez mais. Horas intermináveis de conversa on-line. Eu já não sabia mais o que fazer com meus planos para o futuro. Sabia que estar lá tinha uma importância enorme na minha vida, era um sonho, mas eu tinha um buraco. Faltava alguma coisa. Faltava alguém. Eu já não me sentia mais completa sozinha. Foi nesse momento que eu ouvi meu coração e voltei pra casa. Por amor, admito. Foi uma decisão difícil, mas a decisão mais certa que eu poderia ter tomada. Voltei pro Brasil e hoje me sinto muito, mas muito feliz. Estou com quem eu amo, fazendo mil planos para o futuro (e eles incluem viagens, é claro!).

A Irlanda? Sim, eu fui. Foram quase 4 meses. Uma estação. Aliás, tive a alegria de viver lá no outono. Pra mim, a estação mais linda do ano. Eu andava por aqueles parques e me sentia em casa. Era tudo meu! Aprendi muito, cresci, reaprendi, não tem como explicar. Foi incrível. Realizei meu sonho, fiz meu curso de inglês e voltei pra casa. No lugar onde me sinto amada e querida. Pela primeira vez na minha vida não tenho planos para o futuro. Nem sei o que vou fazer para o almoço de amanhã. E nunca estive tão bem com isso.
Meu intercâmbio na Irlanda encerra por aqui com o sentimento de missão cumprida. Com um desfecho diferente do planejado, mas surpreendentemente melhor. Não tem como voltar e ser a mesma pessoa. A gente muda. E, cá entre nós, ainda bem! Com isso, fecho o blog também. Obrigada por “viajarem” comigo nesse tempo. Foi lindo. Um beijo bem gordo, como o café da manhã Irish.

Cheers!