Por mais distante o lugar para onde você tenha ido se
aventurar de férias, para uma especialização, um curso, para visitar alguém ou
outra razão qualquer, a ligação com o que é nosso é muito forte. Mesmo assim,
eu fui para o meu sonhado intercâmbio na Irlanda decidida a não voltar. Pelo
menos, não tão cedo. Aquilo era muito claro pra mim. Organizada como sou,
planejei cada detalhe. Tudo! Na minha cabeça eu ficaria um ano na terra dos Leprachaus e depois voltaria pro Brasil
com meu inglês bem melhor, quase fluente. Nesse meio tempo arrumaria um
trabalho por lá, e, quem sabe, se meu salário em euros valesse a pena, ficaria
o tempo máximo que um estrangeiro pudesse ficar.
O problema é que nós insistimos na ilusão de que temos o
controle sobre todas as coisas. Eu sempre tive o controle sobre tudo na minha
vida, exceto quando meu pai morreu. Me senti a pessoa mais fragilizada e
vulnerável deste mundo. Então passei a acreditar que não temos o controle sobre
a morte, mas sobre a vida sim. Decidida a ficar na Irlanda por um ano, eu não
contava com um novo caminho que eu encontraria pela frente. Um caminho que
apareceu para me provar que nós não mandamos em nada, nem na morte, nem na
vida: o caminho do amor.
Quando eu parti no começo da primavera eu tinha um
relacionamento no Brasil que não era sério. Uma pessoa com quem eu me dava
muito bem, que eu gostava muito, mas que naquele momento tinha objetivos de
vida diferentes dos meus. Eu fiz a viagem imaginando que a distância resolveria
tudo. Aos poucos nos desligaríamos e cada um seguiria a vida, normalmente.
Ilusão. A distância nos uniu cada vez mais. Horas intermináveis de conversa
on-line. Eu já não sabia mais o que fazer com meus planos para o futuro. Sabia
que estar lá tinha uma importância enorme na minha vida, era um sonho, mas eu tinha um
buraco. Faltava alguma coisa. Faltava alguém. Eu já não me sentia mais completa
sozinha. Foi nesse momento que eu ouvi meu coração e voltei pra casa.
Por amor, admito. Foi uma decisão difícil, mas a decisão mais certa que eu
poderia ter tomada. Voltei pro Brasil e hoje me sinto muito, mas muito feliz.
Estou com quem eu amo, fazendo mil planos para o futuro (e eles incluem
viagens, é claro!).
A Irlanda? Sim, eu fui. Foram quase 4 meses. Uma estação. Aliás,
tive a alegria de viver lá no outono. Pra mim, a estação mais linda do ano. Eu
andava por aqueles parques e me sentia em casa. Era tudo meu! Aprendi muito,
cresci, reaprendi, não tem como explicar. Foi incrível. Realizei meu sonho, fiz
meu curso de inglês e voltei pra casa. No lugar onde me sinto amada e querida.
Pela primeira vez na minha vida não tenho planos para o futuro. Nem sei o que
vou fazer para o almoço de amanhã. E nunca estive tão bem com isso.
Cheers!